Doença de Fabry: Uma enzima em falta
É a insuficiência ou ausência de uma enzima essencial que está na origem da Doença de Fabry, caracterizada pela acumulação de gordura nas paredes dos vasos sanguíneos e dos tecidos. É uma patologia rara e hereditária que afeta sobretudo os homens. Tudo começa com uma mutação no gene GLA, onde está localizada a enzima alfa-galactosidase, responsável pela degradação e eliminação de um tipo de gorduras específicas (GL-3). Essa mutação genética faz com que, num determinado organismo, não haja produção desta enzima ou que a sua actividade seja insuficiente: a consequência é a acumulação progressiva daquela gordura no interior das células, sobretudo nas paredes dos vasos sanguíneos. É um processo generalizado a todo o corpo, o que significa que não há tecidos nem órgãos imunes. Com o acumular da gordura, coração, rins e cérebro, entre outros, vão deixando de funcionar corretamente causando problemas e complicações que podem pôr em risco a vida. É quase sempre na infância que a Doença de Fabry se manifesta, sendo a dor o primeiro sintoma e o mais comum. Provavelmente causada por uma lesão no sistema nervoso, surge, em muitos doentes, associada a variações do clima, exercício físico intenso e stress. E pode manifestar-se de duas formas diferentes - através de sensações como ardor, formigueiro, picadas e desconforto constante nas mãos e nos pés (são as acroparestesias) ou através de episódios de dor intensa, descrita como uma queimadura, inicialmente sentida nos pés e nas mãos mas irradiando para outras partes do corpo (são as chamadas crises de Fabry, passíveis de causar um elevado grau de incapacidade). Comum entre os doentes é a dificuldade, ou até impossibilidade, de suar, o que se deve à acumulação da gordura nas glândulas sudoríparas e a lesões no sistema nervoso autônomo O resultado são episódios de febre sem causa aparente, o sobreaquecimento em exercício físico e a intolerância ao calor. Já o sinal mais visível desta doença rara é uma característica erupção cutânea, com lesões de cor vermelha escura e espessas. São os angioceratomas, localizados sobretudo entre o umbigo e os joelhos, mas podendo também surgir nas pregas cutâneas (cotovelos e joelhos). E tanto podem ser semelhantes à ponta de um alfinete como ter vários milímetros. Os olhos também sofrem com a ausência da enzima alfa-galactosidase. A gordura acumula-se na córnea, dando origem a zonas opacas com um padrão que imita os raios de uma roda de bicicleta ou uma espiral. No entanto, estas opacidades não perturbam a visão. Comuns são ainda as queixas digestivas, com dor após as refeições, náuseas e vômitos Problemas renais e cardíacos, com risco de insuficiência dos órgãos, e problemas neurológicos, com risco de acidente vascular cerebral em idade jovem, estão também associados à Doença de Fabry. O mesmo acontece com perturbações do foro neurológico, sendo frequentes sentimentos de desespero, negação dos sintomas e depressão.
Do cromossoma X
A Doença de Fabry é hereditária, o que significa que passa de pais para filhos.
E passa através do cromossoma X, de que o homem recebe uma cópia e as mulheres duas. É por isso que esta patologia afeta sobretudo, mais gravemente e em idades mais jovens o sexo masculino. A mutação genética responsável pela doença localiza-se no cromossoma X, que o homem transmite às filhas e a mulher aos filhos ou às filhas. Isto significa que nenhum filho de um homem com a doença herda o gene defeituoso, mas todas as filhas o recebem. Se a mutação genética for transmitida pela mãe todos os filhos têm uma probabilidade de 50% de a herdar, independentemente do sexo. A doença pode afetar pois, qualquer pessoa que herde uma mutação do gene GLA. Mas a gravidade dos sintomas depende da produção da enzima alfa-galactosidase: as mulheres podem apresentar desde níveis muito próximos do normal até à ausência total de atividade; já os homens, normalmente, têm pouca ou nenhuma atividade enzimática, pelo que, neles, a doença tende a ser mais grave e a declarar-se mais cedo. Dado que a doença decorre da insuficiência ou ausência de uma enzima o tratamento visa, precisamente, repor os níveis normais, neste caso de alfa-galactosidase. É a chamada terapia enzimática de substituição, que se faz com dois produtos aprovados em 2001. Esta é uma doença que surge num em cada 40 mil bebés do sexo masculino, não existindo, porém, dados sobre a sua incidência em Portugal.
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